O impacto da mobilização nacional dos caminhoneiros repercute em diferentes instâncias da vida da população e de entidades públicas e privadas. A par da justeza e da legitimidade da pauta de reivindicações dessa categoria, esse episódio marca, uma vez mais, o impacto da incompetência da gestão pública brasileira na mediação de conflitos e na regulação de uma das áreas com maior repercussão na rotina diária de todo brasileiro e brasileira.
Dados da Transparência Internacional divulgados no ano de 2017 colocam o Brasil na 79ª posição em um ranking sobre percepção de corrupção no mundo, que abarca uma lista com 176 países. Nesse mesmo sentido, estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo dimensionou os custos da corrupção no país na ordem de 2,3% do PIB, anualmente. Desafortunadamente, a inexistência de métricas claras e de uma metodologia científica consolidada impede-nos de contabilizar os incomensuráveis prejuízos causados pela incompetência dos gestores públicos na administração dos serviços públicos, como também dos privados eventualmente imbricados com aqueles.
A paralisação dos caminhoneiros e, consequentemente, dos transportadores de cargas, que sobreveio como uma bomba nos últimos dias, dá conta da dimensão do estrago gerado pela incúria e pela falta de planejamento da Administração Pública federal, em geral, e da Petrobras, em particular. Com o argumento supostamente técnico do saneamento e da recuperação econômica da maior empresa pública brasileira, vilipendiada, historicamente, por uma sangria de atos de corrupção lesivos à sua saúde financeira, a alta cúpula dessa instituição, incensada pelo mercado, implementou um regime de aumento de preços dos derivados de petróleo sem quaisquer possibilidades de previsibilidade de toda a cadeia de produção, distribuição e comercialização desse insumo fundamental para a economia do país, agravados por uma opção equivocada da década de 50 do século passado, a saber, a adoção do rodoviarismo como modelo logístico. O resultado não poderia ser outro: prejuízos coletivos e abalos concretos às atividades mais comezinhas da vida em coletividade.
Potencializado pelo pânico gerado pela cobertura dos meios de comunicação e das redes sociais, confundindo, ao que parece deliberadamente, fatos com versões, riscos iminentes com danos concretos, chama a atenção o grau de amadorismo com que vem-se portando os mais diferentes atores do governo federal, eivado de denúncias de corrupção de toda ordem, sem qualquer legitimidade institucional e confiança política. Perco eu, perdes tu, perdemos todas e todos nós, povo brasileiro.
Em um momento absolutamente delicado por que passa a nação, o movimento paredista de hoje sinaliza a iminência da anomia social que se abateu sobre a tenra democracia do país. Paradoxalmente, segmentos importantes desse estrato profissional em protesto foram decisivos, em tempos idos, nada distantes, para tensionar o então governo da ex-presidenta Dilma Rousseff, destituído por um voto de desconfiança do Congresso Nacional, sob os auspícios do Supremo Tribunal Federal, a despeito de esta uma figura estranha tanto ao ordenamento jurídico pátrio quanto inexistente ao modelo presidencialista nacional.
A história, novamente, cobra seu preço. Os algozes de ontem tornaram-se as vítimas preferenciais de agora. Espera-se que tenhamos aprendido que não se operam mudanças substantivas na dinâmica sociopolítica e econômica de um país sem o respeito às regras do jogo. Do contrário, da lama nascerá o caos, e do caos, a lama.